Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Sobre Livros - Alumbramento

As Formas do Livro

Leituras e Sentidos

Cleópatra, École de Fontainebleau, sec. XVI.
O que é o que é?
Que tanto se lhe tira proveito na medida em que se o abre?
A charada aparece em um luxuoso manuscrito em pergaminho, do século XV, atualmente conservado no castelo de Chantilly.
A resposta: o livro.
Mas também poderia ser a biblioteca, tais são as semelhanças entre a parte e o todo.
Ambos se encerram em si mesmos, entre duas capas, ou entre paredes. Pouco importa. Interessa observar que no momento mesmo em que se abrem, um mundo totalmente novo se revela. E quando se fecham toda a verdade ali se detém, intacta, até que outrem ouse libertá-la.
Livros e bibliotecas por muitos séculos se confundiram com um só objeto. Na Antiguidade, o modelo de biblioteca era tomado por uma coletânea de escritos, a exemplo da Biblioteca Histórica de Diodoro, de 86 a.C., compilação exaustiva, feita com base nos manuscritos da monumental biblioteca de Alexandria. Também este palácio criado por Ptolomeu Sóter, no século III a.C., não tivera outra sorte: reunir o conhecimento até então produzido pela cópia e reunião de todos os livros que passassem pelo vigoroso porto da cidade, ou pela aquisição de rolos junto aos centros de saber os mais importantes, ou, ainda, pela presença de sábios que vinham enriquecer o acervo com suas palestras e suas escritas.
A literatura é particularmente rica em testemunhos de toda sorte de experiência. Como tinta fresca cujas cores se projetam de um livro ricamente ilustrado, Cleópatra se desenrola de um tapete e se desnuda sob o olhar de Júlio César. Fascinado – arremata Plutarco – “com a desfaçatez da mulher”. O encontro provocaria o primeiro incêndio do palácio, em 47 a.C., o qual, felizmente, não acometeu sua volumosa coleção. A experiência da biblioteca vai muito além da descoberta da leitura, por si só importante.
Detalhe de um afresco de Pompeia, sec. I, Museu de Nápoles
Devassar os espaços, até os desvãos, eis a imagem mais eloquente.
Há quem diga que a internet concorre com as bibliotecas, muito mais do que com os livros. Afinal, tornou-se muito fácil encontrar volumes inteiros, dos mais raros aos mais rotineiros com apenas um clic. Assim os espaços são devassados virtualmente, tanto quanto os livros. Experiências incompletas que roubam ao leitor a experiência única de percorrer corredores por vezes sombrios, de se deslumbrar com espaços inacreditavelmente luxuosos, de se entorpecer com o cheiro muito peculiar aos papeis envelhecidos, de se embevecer, enfim, com a presença dos livros.
Quando todo o mistério do mundo se desnuda entre paredes, ganha-se muito mais do que conhecimento. É o alumbramento, diria Manuel Bandeira.

Versão completa em www.revistabrasileiros.com.brTambém em versão impressa.
Para acessar a "charada": 

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