Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Encontro celebra a Arte de Editar


Um livro perfeitamente acabado contém uma boa doutrina, apresentada adequadamente pelo impressor e pelo revisor. É isso o que considero a alma do livro. Uma bela impressão sobre a prensa, limpa e cuidada, é o que faz com que eu possa compará-lo a um corpo gracioso e elegante.
 Alonso Victor de Paredes, Institución y Origen del Arte de la Imprenta, c. 1680
A prática da edição é tão antiga quanto os primeiros volumes, ou livros em rolo. Timão (320 a.C.-230 a. C.), o filósofo cético, referia-se à Biblioteca de Alexandria como a “gaiola das musas”, onde uns “garatujadores” se punham a ler, copiar e comentar textos antigos. Conta o poeta de Fliunte que Zenódoto de Éfeso (333 a.C.-260 a.C.), o primeiro bibliotecário daquela instituição monumental, fundada na “populosa terra do Egito”, procedia a interpretações e intervenções de qualidade duvidosa ao copiar os textos da Ilíada e da Odisseia, o que colocava suas edições sob suspeita.

Nos tempos de Cícero (106 a.C.-43 a.C.) o ato de editar um texto adquire sentido mais amplo. São conhecidas as cartas que o grande orador, escritor e bibliófilo romano endereçou a Ático (109 a. C.- 32 a. C), o amigo abastado, de uma cultura helenista refinada, que não poupava recursos materiais e escravos – gregos, em sua maioria – para a edição e publicação de bons escritos. Ou seja, a arte da edição não se restringia mais ao estabelecimento de cópias dos registros antigos para a sua preservação nas bibliotecas. Tratava-se, agora, de tornar público um texto. Tal perspectiva explica o conteúdo semântico original do latim editor, editoris, ou seja, o que gera, o que produz, ou aquele que causa; e, por extensão, o autor, consoante o verbo edere, de parir, publicar, expor, produzir, segundo explicação de Emanuel Araújo.
Há, na verdade, duas ações em jogo: enquanto edere equivale a lançar um produto literário sem procurar difundi-lo amplamente, publicare descreve o processo pelo qual o texto se torna público, ou seja, quando ele escapa ao poder do autor. Nos dois casos a função editorial é imprescindível, tanto no aspecto da crítica ao texto, tanto no que toca à cópia e à reprodução do original.
A revolução de Gutenberg intensificou ainda mais a oposição entre a escrita (= original) e o texto (= impresso), na medida em que a possibilidade de reprodução mecânica do livro exigiu novos níveis de profissionalização e de padronização. A publicação de textos eruditos se torna, então, uma atividade colegiada, com ampla participação de especialistas em diferentes fases de construção do livro, desde a seleção do manuscrito, donde a importância da filologia no alvorecer da Época Moderna, passando por decisões de ordem estética, ou seja, a escolha de tipos, a definição da quadratura da página e do formato do volume, até as intervenções de natureza editorial, ou seja, a inserção de paratextos, a hierarquização das informações e, claro, a revisão do exemplar impresso. Como escreve Alonso Victor de Paredes em sua preciosa Institución y Origen del Arte de la Imprenta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário