Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

quinta-feira, 28 de março de 2013

Agenda - Classe Operária e Literatura

Ensaio sobre as representações e os fenômenos de alculturação, de Diana-Cooper Richet

Sumário

Primeira Parte - Os Operários na Literatura Francesa Antes e Depois de Germinal, de Émile Zola: Presença e Representações

1. Presença do Povo e dos Operários na Literatura antes da Revolução Provocada pela Publicação de Germinal, em 1885
2. A Revolução Germinal. A Legitimação do Operário na Literatura
3. A Mis-en-Scène Literária do Mundo Operário desde Germinal

Segunda Parte - A Escrita Operária: Fenômeno de Aculturação ou "Dever da Memória"?

4. A Escrita Operária no Século XIX
5. A Corrente da Literatura Proletária no Entreguerras
6. Escrever para um Operário no Século XX: o Exemplo dos Mineiros

quinta-feira, 21 de março de 2013

Sobre Livros - O Manifesto Comunista, de Marx e Engels

A Primeira Edição Brasileira de O Manifesto Comunista, de Marx e Engels no Brasil

... e os diálogos entre o PCB e o PCF


Capa da Primeira Edição Brasileira - Biblioteca Edgard Carone
Museu Republicano - Itu/SP

São muitos os pontos de contato entre a militância brasileira e a francesa, particularmente na primeira fase de formação política. Bastando lembrar que a primeira edição brasileira do Manifesto Comunista (1924) se fez a partir da tradução francesa de Laura Lafargue (1886). Este e muitos outros textos fundamentais de Marx, Engels, Lênin, Stálin, Bukhárin, Trotski, para citar apenas alguns exemplos, eram via de regra vertidos do francês. O que torna interessante avaliar a questão editorial do ponto de vista das relações franco-brasileiras com base em um quadro comparativo. Das obras que circularam no meio comunista nesta e noutra parte do oceano. Das tiragens de alguns títulos de formação. Das estratégias de difusão dos livros. E, por que não, como já foi assinalado, uma avaliação do maior ou menor grau de independência das editoras comunistas brasileiras e francesas em relação às diretrizes do Komintern.
 Deve-se, todavia, ponderar sobre as reais condições da vanguarda comunista brasileira em relação à europeia. Como lembra Edgard Carone em seus estudos, apenas uma pequena fração dos militantes tivera contato com a literatura marxista, o que lhes colocava a montante do movimento operário como um todo. Para se ter um exemplo concreto do quanto a economia do livro refletia a precariedade dos meios e das mentes na época, citemos ainda o caso da primeira edição do Manifesto Comunista. O livro consiste em uma pequena brochura de 48 páginas, impressa em papel jornal, com tiragem de 2000 a 3000 exemplares (as informações são desencontradas). A tipografia se assemelha muito a de um jornal, o que nos leva a pensar que os tipos e a composição tenham sido feitos em pequena gráfica, especializada na impressão de efêmeros. Além disso, uma única intervenção do tradutor, ao final do livro, diz muito sobre o horizonte de expectativas dos dirigentes do Partido em relação aos militantes de modo geral:
Pedimos a todos os communistas e sympatizantes, a todas as associações operarias do Brasil, a todos os trabalhadores de terra e mas, dos rios e lagôas: 1o.) que leiam três, quatro vezes essa obra de Marx pedra fundamental do comunismo, procurando comprehendel-a o mais possível; 2o.) que os proletarios travem discussões em torno dela, nos syndicatos, nas fábricas, nos engenhos; 3o.) que transcrevam essas páginas immortaes no maior número possível de jornaes, de revistas, etc.; 4o.) que façam palestras, conferencias, em torno dos trechos mais importantes [...].
Ler muitas vezes. Compartilhar da leitura. Repetir. Discutir. Difundir. Parece evidente o duplo esforço do militante: traduzir um texto que tardou a ser editado por essas partes - se bem que, como demonstram outros estudos, particularmente o trabalho brilhante de Bert Andreas, o Manifesto teve um primeiro movimento de difusão circunscrito ao Velho Mundo; fazer com que o texto do livro se multiplique em outros suportes. E, esforço ulterior, que demonstra a desconfiança do caráter ainda embrionário da formação marxista naqueles tempos, a necessidade de se fazer entender o conteúdo através de reiteradas leituras. 
Em breves linhas, podemos dizer que a questão intelectual e de formação esbarrava com a falta de espaço para a organização de mecanismos partidários destinados à publicação impressa. Essas práticas existiram sempre, como o demonstram os memorialistas e os estudiosos do tema. Porém, elas jamais foram institucionalizadas, uma vez que durante toda a sua existência raros foram os momentos em que o partido agiu na legalidade. Além disso, quando comparamos a estrutura editorial do pcb, relativa aos seus primeiros vinte anos de funcionamento, com aquela observada na França, no mesmo período, torna-se gritante o papel do Estado brasileiro como elemento desarticulador das ações dos comunistas.

Em breve: Edição e Rebolução. Leituras Comunistas no Brasil e na França. Organizado por Marisa M. Deaecto; Jean-Yves Mollier. Cotia: Ateliê Editorial [no prelo].

quarta-feira, 13 de março de 2013

Sobre Livros - E Vinhos


Entre Livros e Vinhos

Diz-se que os primeiros prelos foram desenvolvidos com base nos princípios mecânicos das prensas de uva. O aparecimento da tipografia, em meados do século XV, exigiria ainda o aproveitamento de outras técnicas desenvolvidas nas corporações da velha Europa. Assim o domínio sobre a carpintaria, necessário para a construção das primitivas engenhocas; ou os conhecimentos no campo da metalurgia, dos quais resultou a obtenção da liga de metal apropriada para a fundição dos tipos; ou, ainda, o controle sobre a arte da ourivesaria, posto que apenas pelas mãos de um ourives poderiam ser burilados muitos dos caracteres cujos traços sobrevivem até nossos dias.
Entre os séculos XV e XVIII houve apenas alterações circunstanciais nos processos de composição e de impressão. Com efeito, não há objeto que dialogue mais com a tradição diante das inovações possíveis de cada época do que o livro. Do ponto de vista da produção do conhecimento sobre o processo gráfico e, de modo mais pontual, sobre a história do livro, observa-se que ao longo desses três primeiros séculos houve um acúmulo de registros dos trabalhos de mestres impressores, de gravadores, de papeleiros, de encadernadores, ao que se somam, é claro, os testemunhos dos próprios livros. Mas os primeiros estudos sobre o “objeto” livro vieram a lume apenas no curso do século XIX, quando aqueles registros passaram a ser catalogados, sistematizados e analisados por alguns eruditos que se voltaram para o campo específico da bibliologia. A visão do livro como um constructo da humanidade, portanto, passível de ser analisado sob uma perspectiva histórica, sociológica, literária, ou ainda multidisciplinar constitui um fato contemporâneo.

D. Quixote, por Gustave Dorée
Destarte, as aproximações entre a história editorial e aquela voltada para as práticas e representações da leitura abriram uma nova vertente de estudos, consolidando, enfim, a vocação multidisciplinar das pesquisas sobre o livro. Às questões triviais e nem por isso prescindíveis das tradicionais enquetes: Lê-se muito? Lê-se pouco? O que se lê? Quem lê?, somam-se perguntas atinentes à configuração do mercado editorial e ao comprometimento de editores, bibliotecários, livreiros e, se pensarmos mais além, dos prórios designers de livros no processo de formação do leitor.
Pois, retomando nossa idéia inicial, se nas suas origens a construção do livro derivou, em parte, dos mecanismos das prensas de uvas, a partir das quais fabricavam-se os vinhos, esse curioso encontro, o dos livros e dos vinhos no despertar da modernidade merece alguma reflexão. Um e outro conformam-se como alimento do corpo e da alma. E para aqueles que estão verdadeiramente preocupados com o grau de consumo tanto de livros quanto de vinhos, o sábio Cervantes já havia dado sua resposta. Pior do que o consumo em exagero é a sua abstinência. Esta, sim, havia conduzido o probre Quixote ao desvario.

terça-feira, 5 de março de 2013

Agenda - Encerramento do Ciclo de Conferências/EPHE-Paris

No dia 11 de março haverá a conferência de encerramento do curso 

Introduction à une histoire de la « librairie » brésilienne : d’une économie coloniale à la problématique « transnationale » contemporaine (XVIe– début du XXe siècle)

Detalhe do globo terrestre de Blaeu (1645-48)
Biblioteca do Convento Strahov - Praga, Fev. 2013

EPHE

190, Avenue de France

Lundi, 11/03/2013 


(16h-18h – salle 123)

Após seis semanas de trabalho, publico o programa completo das conferências ministradas no quadro da Cátedra Histoire et Civilisation du Livre, sob a Direção de Frédéric Barbier, na École Pratique des Hautes Études (EPHE-IV Section).

 





PROGRAMME GÉNÉRAL DES CONFÉRENCES


11/03/2013 : LE DÉVELOPPEMENT DU MARCHÉ DU LIVRE AU BRÉSIL (XXE SIÈCLE)

25/02/2013 : LE LIBRAIRE ANATOLE-LOUIS GARRAUX (1833-1904): DESTIN INDIVIDUEL ET CONJONCTURE GÉNÉRALE DANS L’HISTOIRE DE LA CIRCULATION TRANSATLANTIQUE DES IMPRIMÉS (XIXE-DÉBUT DU XXE SIÈCLE)

11/02/2013 : PRODUCTION ET DIFFUSION DE L'IMPRIMÉ DANS LE CADRE DE LA FORMATION DE L’ÉTAT BRÉSILIEN (1822-1889)

04/02/2013 : LIVRES, LECTURES ET CENSURE EN AMÉRIQUE PORTUGAISE


PRÉSENTATION

L’objectif des conférences est de proposer aux chercheurs et étudiants spécialisés une introduction à l’histoire du livre et de l’imprimé au Brésil. Ce champ de recherche, dans lequel la tradition française a gardé une place éminente depuis un demi-siècle (avec la sortie de L’Apparition du livre, par Lucien Febvre et Henri-Jean Martin, en 1958), a connu au Brésil un développement plus récent, mais d’autant plus rapide.


La Première Conférence: 
Sala de Leitura e Livraria do Colégio dos Jesuítas de Salvador - Bahia, cuja decoração se fez no final do século XVII
« Livres, Lectures et Censure en Amérique Portugaise »  introduira à l’historiographie du sujet , et permettra de présenter les caractères originaux de l’histoire du livre au Brésil.
Celle-ci se déroule d’abord dans une logique coloniale, puisque les imprimés sont exclusivement importés d’Europe jusqu’au début du XIXe siècle, avec la fondation de la première imprimerie brésilienne, l’Imprimerie royale, par le Régent d. João (1808) .
Cette histoire est, dans le long terme, une histoire transnationale : les établissements européens au Brésil sont de différentes origines (Portugais, Français (au XVIe siècle) et Hollandais (au XVIIe siècle), et le peuplement brésilien est caractérisé par une diversité qui correspond à la dimension continentale du pays (avec des minorités germanophones, etc., sans oublier la population d’origine indigène).
Enfin, l’imprimé joue un rôle clé dans la construction du Brésil comme État-Nation, surtout après l’indépendance (1822). La presse périodique constitue ici un élément essentiel, mais aussi le développement des structures et de l’édition scolaires.
Le cas du Brésil, entre colonisation, indépendance et logiques transnationales, est ainsi très révélateur pour un certain nombre de problématiques intéressant la recherche historique aujourd’hui.

Deuxième Conférence:  
Planta do Rio de Janeiro, 1812
« L’imprimé et l’invention de l’État-Nation » : Faute d’un lectorat suffisant , les importations d’imprimés au Brésil se font d’abord par le biais de négociants non spécialisés, commissionnaires et expéditeurs, voire personnes privées, tous acteurs dont les réseaux ont fait l’objet d’études poussées, y compris s’agissant des politiques de surveillance et de contrôle. Sur place, le rôle des bibliothèques est très important, les plus riches appartenant, jusqu’au XVIIIe siècle, aux ordres religieux.
Pourtant, les dernières décennies du XVIIIe siècle voient émerger un mouvement de sécularisation de la lecture et des espaces de lecture, et les premières bibliothèques publiques apparaissent au début du XIXe siècle : il s’agit d’abord d’initiatives  privées, mais les fondations publiques se répandent dans un certain nombre de villes après 1822. La Bibliothèque royale, créée en 1811, devient alors Bibliothèque nationale .
Le XIXe siècle est le « siècle de la presse périodique », avec des titres comme O Spectador Brazileiro et le Jornal do Commercio (1827) fondés par un émigré français, Pierre Plancher. Ces professionnels développent aussi une activité d’édition générale (avec par ex. la publication des premiers romans imprimés au Brésil) et de librairie de détail.
Le Brésil est au XIXe siècle engagé dans un processus de transformation rapide, dans lequel le rôle des villes est essentiel : on passe d’une société dominée par la cour et par une économie de l’esclavage (jusqu’en 1888) à une société engagée dans la modernité économique et sociale. Deux phénomènes seront plus particulièrement abordés.
Sur le plan interne, les dimensions du pays posent des problèmes relevant de l’intégration (la frontière au sens américain du terme), de la diversité des peuplements et des oppositions très profondes de développement (ville / monde rural ; côte / intérieur, etc.). On éclairera ce point à travers l’étude de la ville, en soulignant le paradoxe : l’imprimé est facteur d’unité (avec les livres scolaires, etc.), mais aussi de diversité (visible à travers la typologie variée des produits et de leurs circuits de distribution).
Sur le plan extérieur, le Brésil s’intègre pleinement dans les systèmes modernes d’échanges internationaux, avec l’essor des lignes maritimes régulières, anglaises, puis françaises (1861), et avec la participation à l’Union générale des postes (1878). L’époque est marquée par un développement très rapide des importations de livres et d’imprimés, notamment français, qui font du Brésil un des principaux marchés extérieurs pour cette production. L’analyse statistique permet de préciser la conjoncture du phénomène, et la nature des expéditions  . L’hypothèse est posée, selon laquelle l’influence française dans le domaine de la librairie au XIXe siècle dériverait de celle exercée par les idées des Lumières et par la Révolution. Il est remarquable que l’on produise alors aussi à Paris des éditions en portugais directement destinées à l’exportation .

Troisième et Quatrième Conférences : 
Les étiquettes de la Librairie Garraux (1860-1935),
synonime de la modernité en matière de commerce des livres à São Paulo
En abordant la monographie d’un acteur privilégié de ces transferts, nous prolongeons une tradition de l’historiographie brésilienne, notamment en histoire du livre (avec des études de maisons d’édition)  , tout en approfondissant certains aspects des phénomènes présentés dans les conférences précédentes. Et, pour en conclure, un regard sur le développement de l’économie du livre au demi XXe siècle.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Agenda - Editoras Universitárias e Comics Books


HISTOIRE  DE  L’EDITION,  DU  LIVRE  ET  DE  LA  LECTURE

Responsable : Jean-Yves Mollier, professeur à l’UVSQ.

Horaire : Vendredi, de 14 à 17 heures

Lieu : UVSQ, Bâtiment Vauban, 47 boulevard Vauban à Guyancourt (salle 524).
1er mars 2013 :
- Jean-Paul Gabilliet (Université de Bordeaux 3) : Les Comics Books américains et les mutations des modes de consommation culturelle.
- Marisa Midori (Université de Sao Paulo) : les éditions universitaires, un acteur original de la diffusion du savoir.