Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Agenda - Bibliothèque Mazarine


O Novo Mundo na Bibliothèque Mazarine

Yann Sordet (Directeur de la Bibliothèque Mazarine)

Frédéric Barbier (EPHE-Paris IV; CNRS)
« Claudius Ptolomaeus et les éditions de l’Atlas à l’Époque Moderne »

Patrick Latour (Bibliothèque Mazarine)
« Raynal : un regard vers l’Amérique »

Marisa Midori Deaecto (Université de São Paulo)
« Une Brasiliana dans la Bibliothèque Mazarine : Première Expédition »
"Isle e Fort des François", In: André Thévet, La Cosmographie Universelle (Paris, Nic. Chesneau, 1575)
Terça-Feira, 14h30-17h30 – Sala Franklin 

Bibliothèque Mazarine - Quai Conti - Paris



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

DiverCidades – Eger : Tesouro Barroco


Uma universidade entre livros

A história do livro, como toda a História, vale dizer, não é infensa a certas regularidades, o que pode torná-la previsível, mas jamais tediosa. São as regularidades, aliás, que nos permitem encontrar um padrão, ou padrões analíticos, quer pelas semelhanças, quer pelas diferenças observadas entre um processo e outro.
Assim a história das cidades no mundo ocidental. Onde quer que nos encontremos, em uma pequena cidade encravada nas Minas Gerais, na suntuosa Praga, centro cultural e político da Bohemia, ou na bela Eger, ao norte da Hungria, algumas referências arquitetônicas e estilísticas, que remontam ao período de maior riqueza desses núcleos urbanos, contam muito sobre a circulação e recepção de certos padrões estéticos. No entanto, a simples constatação de que ali predominam o Barroco e o Rococó nos motivos arquitetônicos e nos afrescos de seus principais edifícios não implica em um grande avanço no conhecimento dessas sociedades. Afinal, embora o historiador reconheça as regularidades, o que lhe interessa, no fundo, não são as semelhanças, mas os elementos particulares que individualizam estes lugares e tornam suas sociedades um interessante tópico de estudo e de investigação.
Vista do Centro, da Torre Astronômica da Universidade de Eger.
Introdução verdadeiramente Barroca para tratar de Eger. No limite da cidade, ao norte, um minarete e uma fortaleza testemunham os tempos da ocupação turca. Pois foi justamente após a reconquista do território pelos Habsburgos (1686) que a cidade se renovou e não demorou a se tornar um bastião da Contra-Reforma. Em 1763, o Bispo Conde Károly Esterházy (1725-1799) investe na construção de um templo suntuoso destinado aos estudos superiores e de uma belíssima biblioteca, concluída trinta anos mais tarde. 
Vista geral da Biblioteca Eszterhazyana

Detalhe do afresco, uma representação do Concílio de Trento (1545-1563)

Julgamento dos livros defesos.
Coleção monumental, desde o início, com seus 20.000 volumes, dentre os quais alguns teoricamente proibidos. Afinal, embora de vocação religiosa, senão católica, nasce sob o signo das Luzes e da Tolerância. O afresco que recobre o teto da biblioteca, em toda a sua extensão, documenta bem um capítulo importante na história da Igreja e dos livros, a saber, o Concílio de Trento (1545-1563), donde a lembrança, num dos cantos da sala, de uma cena do julgamento e queima de títulos defesos.
Como bem observa Frédéric Barbier, “a Biblioteca Eszterhazyana de Eger se caracteriza pela modernidade nos domínios científicos, e mesmo pela presença de um certo número de títulos teoricamente proibidos, por exemplo, a Bíblia de Lutero, na edição de Ratisbonne, de 1756” (http://histoire-du-livre.blogspot.de/2010/04/en-hongrie-3-reforme-catholique-et.html).
Passados mais de 200 anos de história, o projeto de se constituir na cidade um centro de conhecimento parece consolidado. O imponente edifício abriga a Universidade de Eger, a qual atrai jovens estudantes da região e professores de todo o país. A antiga biblioteca, com sua coleção bastante aumentada, cerca de 130.000 volumes, convive com outras coleções menores, porém, não menos significativas, distribuídas em diferentes seções, destinadas a prover alunos e mestres.
Não posso deixar de agradecer o Prof. Dr. István Monok, sábio amigo que me proporcionou uma inesquecível estada nesta jóia barroca que se esconde por detrás dos montes Matra. köszönöm

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

DiverCidades - Praga


No Palácio Nostitz, vestígios do Novo Mundo

Interior do Palácio Nostitz (seçulo XVIII), onde se conservam os livros.
Um Jornal de Viagem cuidadosamente ilustrado, com suas naus multicoloridas, retraça uma longa e aturada viagem de três longos anos que se concluem em 1519. Redigido em português, com encadernação reforçada em couro e amarração, este valioso volume que não ousei fotografar remonta muito provavelmente à coleção de um mosteiro ou de um palácio da Silésia.
Sobre a mesa, avultam edições já bem conhecidas entre especialistas e curiosos da brasiliana.
Na mesa de leitura, no centro, em encadernação de couro, manuscrito de um viajante português, datado de 1519. Ao lado, uma edição em pequeno formato de Caspar Barlaei. E em primeiro plano os dois in-folio descritos no texto. Em cima da caixa branca, a primeira edição de Jean de Léry, Histoire d’un voyage faict en la terre du Bresil, autrement dite Amerique.... [Genève] : pour Antoine Choppin, 1585
Dois fólios ricamente ilustrados testemunham o interesse despertado pelas coisas de nossa terra nos tempos da administração de Maurício de Nassau. Eles comprovam, outrossim, a força da edição holandesa durante o século XVII. Trata-se da Historia Naturalis Brasiliae [Leiden/Amsterdam, Elzevier, 1648] e da não menos monumental edição de Casparis Barlaei, Rerum per octennium in Brasilia et alibi nuper gestarum, sub praefectura illustrissimi comitis J. Mauritii, Nassoviae, &c. comitis... historia. Amstelodami : ex typographeio Joannis Blaeu , 1647. A mesma deve ter conhecido notável sucesso nos tempos de sua aparição, pois passados pouco mais de dez anos surpreendemos nova tiragem, agora em pequeno formato tirada por um impressor germânico: Casparis Barlaei, Rerum per octennium in Brasilia et alibi gestarum, sub praefectura illustrissimi comitis J. Mauritii Nassaviae &c. comitis, historia. Editio secunda. Cui accesserunt Gulielmi Pisonis... Tractatus 1. De Aeribus, aquis & locis in Brasilia. 2. De Arundine saccharifera. 3. De Melle silvestri. 4. De Radice altili mandihoca... Clivis: ex officina Tobiae Silberling , 1660.
Sobre a riqueza encontrada no Palácio Nostitz, no suntuoso bairro Mala Strana, em Praga, há muito mais a dizer. Fiquemos, por hora, nestes curiosos exemplares que remontam o mundo luso-brasileiro, os quais nos fazem pensar nos muitos mistérios que conduzem títulos improváveis (manuscritos e impressos) à distante Silésia.

Distante? O globo terrestre justaposto à mesa dos livros, um exemplar de Johannes Blaeus, de 1648, bem nos faz pensar que as distâncias e os contatos entre os homens eram muito mais frequentes do que nossa imaginação pode pensar.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Sobre Livros - Céu, Inferno

http://www.artyours.com
Os catálogos de bibliotecas surgem do empenho de compilação, num só livro, de todos os volumes que uma coleção comporta. Dir-se-ia, uma biblioteca sem paredes.
A prática da catalogação se difunde na era de Gutenberg. Uma verdadeira galáxia composta por nomes de autores, títulos, formatos, notas biobibliográficas... nem sempre apresentados nesta ordem e com os mesmos critérios de seleção, absorveu a vida de muitos bibliotecários e bibliófilos.
Todavia, apenas uma seção da biblioteca não se destinava a compor este mapa celestial de raridades.
As bibliotecas tinham seu inferno. Os livros repousavam em espaços reclusos, nos desvãos das estantes, ou em salões instalados por detrás de paredes falsas, ou ainda sob o rês de chão das mansardas. O inferno das bibliotecas desafiava a imaginação dos arquitetos mais engenhosos e a fantasia dos proprietários mais endinheirados. O século 18 é pródigo nessas assimetrias e ilusões arquitetônicas.
A noção mesma de intimidade conduz nobres e burgueses às recepções reservadas no boudoir e às leituras na solidão destes espaços. Imagens de leitores e leitoras do grande século francês testemunham bem este dolce far niente literário.
Adentrando o inferno, o que encontramos? Pensemos na cena célebre do primeiro encontro de Julien com Mathilde. A bela heroína de O vermelho e o negro adentra furtivamente na biblioteca do pai através de uma passagem secreta. Deslumbrado, o jovem provinciano observa Mathilde em sua incursão perigosa, enquanto seus dedos ligeiros percorrem as obras completas de Voltaire.
Toulouse Lautrec
Há, no entanto, títulos mais frívolos que fariam enrubescer os dois jovens. Entre memórias ardentes, contos de fadas eróticos, jogos rocambolescos, ensinamentos sobre a arte de amar, nada escapa aos autores, leitores e censores.
A era do capitalismo de edição fez do inferno da biblioteca um negócio providencial. Nos subterrâneos da Bolsa e nas mansões haussmanianas da Rive Droite, editores e livreiros engordavam seus bolsos com a edição e venda de literatura erótica. Em 1852, a polícia apreendeu doze mil volumes em posse das Edições Garnier. Dentre os títulos: A Educação de Laure, Amores e Galanteios das Atrizes, Libertino de Qualidade, Messalina Francesa, Os Males da Virtude. Inferno para uns, paraíso para outros. Arte da dissimulação de autores consagrados, entre Stendhal, Musset, Gauthier, Maupassant, Cocteau, Aragon, para ficarmos apenas entre os franceses contemporâneos, o gênero foi responsável pelo aparecimento de edições bem cuidadas, verdadeiras obras artísticas, síntese do que de melhor havia em termos de encadernação e ilustração (finas gravuras em metal, ou no Oitocentos, belas litografias), sem dispensar, é claro, a boa tipografia impressa sobre papeis nobres. Mais do que a erotomania, a economia da literatura erótica se tornou objeto da bibliomania.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sobre Livros - Jesuítas no Brasil

Uma biblioteca desaparecida...

"A Sabedoria aqui edificou sua morada", pintura do final do século XVII, Salvador-BA
Fonte: Catedral Basílica de Salvador da Bahia 1657. 2a. edição. Salvador: IPAC, 20012, p. 193.
Fotografia de Heraldo Alvim
As principais notícias de que dispomos das livrarias dos jesuítas no Brasil foram compiladas por seu principal historiador, Serafim Leite. Da vasta documentação coligida em sua monumental História da Companhia de Jesus no Brasil, assomam as correspondências e relatos de missionários acerca dos colégios visitados. Foram muitos. Bem valia uma cartografia dos mesmos na América Portuguesa.
Uma outra cartografia nos faria bem compreender a circulação de ideias promovida pelos soldados de Santo Inácio. Noutras partes do continente um Colégio acompanhava uma biblioteca e, não raro, alguma oficina tipográfica, ainda que seu funcionamento fosse temporário. Contentamos apenas com as bibliotecas, os cadernos manuscritos e, quem sabe - hipótese levantada com notável entusiasmo por Carlos Rizzini - por estas partes, a exemplo do modelo hispânico, a escrita também tenha circulado a partir da impressão tiradas de xilogravuras. A técnica, diga-se de passagem, era bem conhecida no Velho Mundo.
Mas, e as bibliotecas? Padre Vieira visitou algumas no Pará e no Maranhão, das quais tirou boa impressão. A livraria do Colégio do Rio de Janeiro, que à época da expulsão dos jesuítas contabiliza 5.434 volumes. Dos volumes que sobreviveram às pestes e à humanidade desde 1759 a 1775, quando foram redescobertos, o novo catálogo contabilizara 4.701, dentre os quais 66 títulos eram defesos. Os dados surpreendem por vários aspectos, dentre outros, pela exatidão dos números!
A maior livraria foi, todavia, a do Colégio de Salvador. Também sua importância na vida intelectual da colônia é inestimável. Nele atuaram Padre Vieira e Antonil. 
Conta-se que à época da expulsão dos jesuítas a coleção ostentava algo perto de 15.000 volumes.
Nada restou, ou pouco, espalhado alhures.
E a sala de leitura, que belo exemplar da pintura barroca, teria afirmado Lúcio Costa na época de sua redescoberta. 
Sala de Leitura, atualmente sala do Museu do Colégio dos Jesuítas, Salvador-BA.

Fonte: Catedral Basílica de Salvador da Bahia 1657. 2a. edição. Salvador: IPAC, 2012, p. 123. 
Fotografia: Arquivo IPAC
O presente artigo não foi inspirado nos livros, mas na pintura daquele teto, que hoje se mantém. Assim como a sala de leitura, cujo último registro que encontrei bem lembrou outros relato, passado em tempos distantes, na ainda mais longínqua Alexandria. Em A Bbilioteca Desaparecida Luciano Canfora percorre os traços de uma biblioteca que se perdeu materialmente, ainda que tenha se mantido como um modelo singular na cultura clássico, o qual teria inspirado as grandes coleções do Velho Mundo. A sala ampla, de formato irregular, bem iluminada por janelas generosas - e o teto decorado - falam de uma biblioteca que se perdeu. Ainda que naquele espaço, naquela fotografia, o livro tenha resistido apenas nas mãos da Sabedoria, que ali fixara morada, como diz o dístico. Da biblioteca desaparecida, seu principal testemunho é aquela pintura. 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Homenagem Póstuma

Para a Hora da Dor

Água, é a sede que ensina.
Terra, a travessia do mar.
Êxtase, a agonia.
Paz, o guerrear.
Amor, o retrato eterno, 
Pássaro, o inverno.

(Emily Dickinson, por Angela Lago)


Homenagem ao 
Professor Ivan Teixeira
que se despede de nós neste
31 de janeiro de 2013