DiverCidades - Brasov

Brasov e a Bibliotheca Scholæ Coronensis

Igreja Negra - Fachada

A cidade de Braşov/Kronstadt/Brassó se situa nos confins da Transilvânia, no altiplano cercado pela cadeia dos Cárpatos, na região de Ţara Bârsei, próximo à fronteira da Valáquia. A situação geográfica talvez explique a função militar exercida por esta antiga fortificação teutônica datada do século XII. Ou ainda os múltiplos ataques de tártaros e otomanos que devastaram a cidade durante séculos. Em Braşov reverberam no imaginário das gentes a presença de Vlad III, Príncipe da Valáquia (1431-1476), com suas demonstrações de empalamento em massa que fizeram dele uma figura tanto terrível quanto mítica. Poucos se lembram, todavia, que ele compõe um capítulo importante da luta contra o avanço otomano sobre a Europa cristã.

Bibliotheca Scholæ Coronensis - Fachada

Em 1542 a população de Braşov abraçou o luteranismo. No coração da cidadela, diante da imponente Igreja Negra, nascia, em 1547, a Bibliotheca Scholæ Coronensis por obra do pastor Johannes Honterus (1498-1559).
A antiga Scholæ Coronensis de Johannes Honterus, que hoje abriga a biblioteca, o arquivo e um centro de estudos sob os auspícios do governo alemão, representou algo mais do que uma instituição comunitária para a instrução das gentes. Ela perfaz, outrossim, o caminho das escolas de eruditos, a exemplo do Colégio Reformado de Tîrgu Mureş, fundado na mesma época. O que se atesta pela composição de seu acervo – inclusive pelas obras impressas no local – e pelo contato mantido por seu patrono com grandes figuras do humanismo europeu. Dentre eles, Philippe Schwarzerd, Melanchton (1497-1560).
Se considerarmos que, entre 1522 e 1600, 493 estudantes da Transilvânia frequentaram a Universidade de Wittenberg, dentre os quais 227 no período de 1522 a 1560, parece compreensível a presença marcante desse humanista na Transilvânia. Contam-se, ainda, onze estudos de sua autoria impressos na região, entre 1548 e 1570, sendo oito edições em Braşov e três em Cluj. Seis abarcam questões educacionais e cinco teológicas. Dentre os títulos levantados, Thomas Şindilariu destaca a edição de uma obra importante sobre a reforma que ali se verificou, a saber, Approbation reformationis ecclesiae Coronensis, reimpressa em 1563. 

Exemplar impresso no Colégio, sec. XVI

Nesse ponto, a pesquisa de campo se mostrou útil para a compreensão de outra fórmula cara a Lucien Fevbre: “o livro a serviço da História”. Afinal, parecia claro ao biógrafo de Lutero e estudioso profícuo da mentalidade cristã no Ocidente europeu que a arte impressória servira de fermento para a Reforma luterana. E, claro, para a Contrarreforma.

Excerto do artigo "Viagem pelas antigas bibliotecas da Transilvânia", Livro - Revista do Núcleo de Estudos do Livro e da Edição, n.2, 2012. 
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